Sabe quando você termina aquele livro e fica com um sorriso nos lábios, uma expressão extasiada nos olhos, olhando a capa e murmurando insistentemente “minha nossa”, ou “meu Deus”?
Devo admitir que ainda me encontro neste estado.
Que história fantástica. Sensacional, comovente. É um verdadeiro retrato complexo e autêntico dos desejos e das dores comuns dos seres humanos.
Cameron Wolfe é um garoto extraordinário. Markus Zusak descreveu um personagem tão cheio de luz, sabedoria, bondade e amor. Um personagem que os leitores devem carregar dentro de si.
Cameron é um menino calado, vivendo as crises de sua pré-adolescência, passa a maior parte de seus dias na solidão.
Mora em uma casa humilde com seus pais, seu irmão Rube, e sua irmã Sarah. Muitas vezes ajuda seu pai no trabalho, ele e Rube sempre que precisa, está ao lado de seu pai nas construções.
Rube é completamente o oposto de Cameron, é lindo, cativante e comunicativo. Troca de “namoradas” uma vez por semana.
Todas são loucas para sair com ele, e ele machuca todas.
Mas Rube está sempre ao lado de seu irmão. Tem uma necessidade maluca de que Cameron o admire.
Sarah já passou dessa fase amalucada, que os irmãos estão vivendo agora. Procura sempre ficar em casa, e quando chega do trabalho sempre ajuda sua mãe nos afazeres de casa.
Cameron se dá tão bem com ela, Sarah consegue entendê-lo de uma forma única. Ela sabe que o silêncio do seu irmão é o mais puro do Eu Te Amo.
Temos também Steve, um dos irmãos, jogador de futebol e que acha o Cameron uma causa perdida.
Ele adorava andar pelas ruas da cidade, sem um destino em mente. Mas era importante e especial quando andava consigo mesmo, pensando as suas palavras, registrando-a em seu coração. Porém no final da caminhada, Cameron sempre parava em frente à casa da família Glebe, ali morava Stephanie, uma garota por quem ele se achava apaixonado.
Quantas vezes ele ficou ali na frente, por horas contemplando aquela residência. Procurando qualquer vestígio de que aquela garota também o olhava, reconhecia que ele estava ali, por ela. Mas isso nunca aconteceu.
Foi quando ele conheceu Octavia. Uma das namoradas de Rube.
Ela era linda aos olhos de Cameron, seus olhos verdes o dominavam de forma absurda. E ela não o tratava como um louco, um solitário que estava ali apenas para ser um saco de pancada.
Octavia o entendia, conhecia a pureza de seus sentimentos.
Quando o namoro de seu irmão terminou, Octavia foi procurar por Cameron, ela sabia que poderia encontrá-lo em frente aquela casa.
E ela pediu para que ele ficasse em frente a sua casa, esperando por ela.
Foi então que nasceu uma verdadeira história de amor.
Era Octavia quem ele queria, era por ela que valeria a pena esperar.
O autor conseguiu mesclar a história de amor de Cameron e sua vida familiar.
Conseguiu mostrar todo o valor daquele garoto.
Octavia o ajudou em tantos momentos, a se soltar, a demonstrar seus sentimentos.
Mas todos sabiam quem era Cameron, ele não precisava falar nada, pois ele estava ali. E sempre estaria, sempre os ajudaria quando fosse preciso, os carregaria, os amaria de forma incondicional.
Cameron provou que mesmo sendo um perdedor, aos olhos de muitos, ele nunca desistiria de lutar.
As palavras que sempre carregava junto ao peito, era a sua história, a sua luta, a sua vida.
A Garota Que eu Quero nos mostra como julgamos as pessoas. Como somos capazes de destratar os seres humanos, pelo simples fato de serem calados, pensativos, esquisitões. Mas pode ser um desses, que vai te carregar no colo quando não conseguir parar em pé.
Uma história especial que irá tocar seu coração, te fazer repensar, e nunca mais se esquecer dela.
Casa de Livro Recomenda.
As minhas histórias são feitas de perdedores e lutadores. São feitas de fome e desejo e de tentativas de levar uma vida digna.
Titulo: A Garota Que eu Quero
Titulo Original: Getting The Girl
Autor: Markus Zusak
Páginas: 174
Ano: 2001
Editora: Intrínseca
Boa Leitura
Casa de Livro
Karina Belo
É muito comum ser tratado desse jeito por aqui, mas dessa vez doeu. Acho que doeu por ser dito por uma garota. Sei lá. De certo modo, foi meio deprimente ter chegado a esse ponto. Não se podia nem esperar um ônibus em paz.
Eu, eu sei. Eu devia ter retrucado com uma boa resposta, mas não retruquei. Não consegui. Que Wolfe, hein? Que grande cão selvagem eu virei! Tudo que fiz foi roubar uma última olhadela, para ver se eles iam atirar alguns últimos fragmentos de xingamento em mim.
- Não se preocupe meu irmão. Não preciso que você diga à Sal que não sou um fracasso. – Ainda estávamos separados pela porta de tela. – também não preciso que você diga isso a mim. Eu sei o que sou. Sei o que vejo. Talvez, um dia, eu lhe fale um pouco mais de mim, mas, por enquanto, acho que teremos que esperar para ver o que acontece. Não estou nem perto do que serei, e... – Senti uma coisa em mim. Uma coisa que sempre havia sentido. Fiz uma pausa e captei o olhar de Steve. Saltei para dentro dele através da porta e o prendi. – Você já ouviu um cachorro chorar, Steve? Sabe como é, uivar tão alto que quase chega a ser insuportável? – Ele fez que sim. – Acho que uivam assim porque estão com tanta fome que chega a doer, e é isso que sinto em mim, todos os dias da minha vida. Tenho uma fome enorme de ser alguma coisa, de ser alguém. Está me ouvindo? – Ele estava. – Não vou me rebaixar nunca. Não diante de você. Nem de ninguém. – Encerrei o assunto. – Eu tenho fome, Steve. Eu tenho fome.
Fazia quase meia hora que estávamos conversando quando Octavia me perguntou.
- Existe alguma coisa que você já tenha desejado fazer com perfeição?
Concentrei-me na chuva, que começava a cair mais forte, e soube o que ia dizer. Aquilo se estendeu por dentro de mim e eu o disse em voz baixa.
- Uma coisa em que eu gostaria de ser perfeito? – Mas, naquele momento, não pude deixar de desviar os olhos. – Amar você. – completei. As palavras me subiram à boca. – Eu gostaria de amar você de forma perfeita. O único problema – continuei – é que sou apenas humano. Vou só fazer o melhor possível, está bem?
- Oi, Cam – disse ele.
- Oi, Rube.
Estava nervoso, deu para perceber.
- O que você veio fazer aqui? – indaguei.
Suas mãos brincavam com os bolsos quando ele se agachou. Nós dois contemplamos a água, e percebi que Rube estava desmoronando, só um pouquinho. Ele olhou para frente e disse:
- Eu tinha que vir lhe dizer uma coisa...
Olhou para mim então. Estávamos nos olhos um do outro...
- Rube? – chamei.
- Olhe – disse ele -, passei a vida inteira meio que esperando que você me admirasse, sabe?
A expressão de seu rosto me buscou. Assenti.
- Mas agora eu sei – prosseguiu – Agora eu sei.
Esperei, mas não me veio nada: Então perguntei:
- Sabe o quê?
Rube me encarou e sua voz estremeceu ao dizer:
- Que sou eu que admiro você...
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