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17 de out. de 2012

Eça de Queiroz - O PRIMO BASÍLIO


Hoje iremos comentar sobre mais uma obra de Eça de Queirós, que foi um dos principais responsáveis pela introdução do realismo em Portugal. O Primo Basílio, obra que iremos desenvolver aqui no Blog, foi um dos livros que mais colaboraram para desbancar o romantismo de Camilo Castelo Branco e instalar em Portugal novos padrões de arte e de visão da sociedade e da vida.
O livro retrata a vida da classe média de Lisboa, com inesquecíveis tipos caricatos, como o Conselheiro Acácio e Dona Felicidade, é uma história envolvente.
Vamos começar então, a comentar sobre essa incrível obra.
Jorge, bem sucedido engenheiro e funcionário de um ministério. Luísa, moça romântica e sonhadora. Eles protagonizam a história, junto com o Primo, o típico casal burguês da classe média da sociedade lisboeta do século 19. Casados e felizes, falta apenas um filho para completar a alegria do lar, mais conhecido como “lar do engenheiro” esse era o nome da residência do casal, nome esse que foi dado por sua vizinhança pobre.
Existe um grupo de amigos que frequenta o lar de Jorge e Luísa, Dona Felicidade a beata que sofre de crises gasosas e morre de amores pelo Conselheiro. Sebastião, amigo íntimo de Jorge. Conselheiro Acácio, o bem letrado. Ernestinho e as empregadas - Joana, assanhada e namoradeira. Juliana, revoltada, invejosa, despeitada e amarga, e ela é também a responsável pelo conflito do romance. Digamos que a vilã.
Ao mesmo tempo em que cultiva uma união formal e feliz com Jorge, Luísa ainda mantém amizade com uma antiga colega, Leopoldina.
Leopoldina também era conhecida como “Pão-e-Queijo” por suas contínuas traições e adultérios. A felicidade e a segurança de Luísa passam a ser ameaçadas quando Jorge tende a viajar a trabalho para o Alentejo.
Após a partida de seu esposo, Luísa fica louca e com muito tédio sem ter o que fazer melancólica pela ausência de seu marido. E é exatamente nesse período que Basílio chega do exterior. Lindo e sedutor, o primo não leva muito tempo para conquistar o amor de Luísa, eles já haviam tido um breve romance antes de Luísa conhecer Jorge. 
Luísa é uma pessoa com uma forte visão romântica da vida, lia apenas romances, e Basílio apresentou-se como o personagem principal para seus sonhos. Era rico, jovem, lindo, morava na França, tudo perfeitamente romântico. O amor inicial transformou-se em ardente paixão e isso faz com que Luísa pratique adultério. Ela trai Jorge. E Juliana que já esta desconfiada, espera apenas uma oportunidade para apanhar a patroa em flagrante.
Os encontros entre os dois se dá a par de trocas de cartas de amor, uma das qual Juliana consegue roubar, graças aos conselhos sábios de tia Vitória, que começa a chantagear a patroa. Transformada de senhora mimada a escrava, Luísa começa a adoecer. De frágil constituição, os maus tratos que sofre de Juliana lhe tiram rapidamente o ânimo, fazendo com que sua saúde fique a cada dia que passe mais comprometida.
Jorge então volta, e de nada desconfia, pois Luísa satisfaz todos os caprichos da criada, enquanto tenta todas as soluções possíveis, até que pede ajuda para Sebastião, o qual armando uma cilada para Juliana, tentando levá-la presa, acaba por provocar a morte da moça. É um novo tempo para Luísa, cercado pelos carinhos de Jorge, Joana e da nova empregada. Porém já é tarde demais, enfraquecida pela vida que tivera de suportar sob a tirania de Juliana, Luísa sofre com uma violenta febre.
Agora de cama pela febre alta, ela não nota que Basílio lhe responde a uma carta escrita havia meses, e quando o carteiro entrega o papel em sua residência, chama a atenção de Jorge por estar endereçada a Luísa e remetida da França, motivo pelo qual ele a abre e descobre a traição da esposa nas palavras amorosas e cheias de saudades do Primo Basílio. A evidência da traição deixa Jorge desesperado, mas, no entanto ele acaba perdoando Luísa, o amor que tem pela esposa é muito forte, e vê-la doente desse jeito o deixa ainda mais emotivo. Mas de nada adiantam os carinhos e cuidados do marido e dos amigos.

Luísa morre e o lar, que era formalmente feliz, se desfaz. O romance termina com a volta de Basílio, o qual fugira deixando Luísa sem apoio. Eça de Queirós escreve com perfeitos detalhes o cinismo de Basílio, comentando sobre a morte de sua amante. O livro é encerrado explicando o mau caráter de Basílio. Enquanto caminhavam pela rua, o seu amigo Visconde Reinaldo censurava Basílio por ter tido um romance com uma burguesa. Mas Basílio confirma a suspeita do amigo, Luísa fora usada, não houve qualquer sentimento por parte dele. Luísa morrera, portanto, sem nunca ter sido amada por Basílio, o seu grande amor.
Uma das melhores obras de Eça de Queirós, O Primo Basílio é um clássico, Casa de Livro garante.


Saudade do Brasil - Instrumental - Tom Jobim
Trilha Sonora - Primo Basílio


Titulo: O Primo Basílio
Autor: Eça de Queirós
Ano: 1878
Páginas: 536
Editora: Editora Novo Século

Boa Leitura

Casa de Livro Blog

Karina Belo

Nota: cinco 



E Luísa tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações.
Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, certa tranquilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho; achou a pele mais clara, mais fresca, e um enternecimento úmido no olhar; seria verdade então o que dizia Leopoldina, que “não havia como uma maldadezinha para fazer a gente bonita?” Tinha um amante, ela!

16 de set. de 2012

Eça de Queiroz - A CIDADE E AS SERRAS

                                            
Mais um clássico da literatura, que irá também ajudar no vestibular para todos os interessados. Publicado em 1901, ano seguinte à morte de Eça de Queiroz, o romance A Cidade e as Serras foi desenvolvido a partir da ideia central contida no conto, civilização, datado de 1892. É um belo romance, onde Eça de Queiroz ironiza ferrenhamente os males da civilização, fazendo elogios dos valores da natureza.
Uma das obras mais significativas do autor, onde ele relata a travessia de Jacinto Tormes, um ferrenho adepto do progresso e da civilização da cidade para as serras.
Jacinto troca o mundo civilizado, repleto de comodidades que caracterizam a vida urbana moderna.
A Cidade e as Serras transcorrem no século XIX, quando Paris, a cidade-luz, era vista como capital europeia e Portugal como uma nação subdesenvolvida e em pleno declínio. Jacinto é a personificação dos ideais cultivados neste período, pois ele glorifica a vida urbana e civilizada, e despreza totalmente a existência rural.
O narrador personagem, José Fernandes, o qual não se confunde com o  protagonista da obra Jacinto Tormes, é colocado como menos importante do que o protagonista, como é exemplificado no início da obra.
José Fernandes então vai para Guiães, residência dos tios, localizada nas serras. Por conta desta decisão, ele e Jacinto permanecem distanciados durante sete anos. Ao voltar para Paris, hospeda-se na casa de Jacinto, mas contrariando a tese do amigo, que crê que a felicidade esta vinculada à presença da civilização.
Mergulhado no tédio, Jacinto segue cansado cada evento de sua vida, desde a destruição da família, a edificação de outro recanto para os mortos, até as festas incessantes empreendidas em honra do Grão Duque. Um dia ele resolve partir para Tormes, situada nas serras, em companhia de José Fernandes e de Grilo, para testemunhar o ritual de inauguração do novo monumento funerário.
Para que ele não se despojasse de suas modernidades, a casa que o abrigaria foi provida de todos os objetos civilizatórios. Quando os amigos chegam a seu destino, descobrem que nada foi preparado e nem mesmo sua vinda fora prevista. Para piorar, sua bagagem havia se extraviado. Sem outra saída, eles se acomodam como podem em sua pousada.
José Fernandes volta para Guiães, e envia ao amigo os trajes que lhe permitiriam voltar para a cidade, mas não obtém retorno de Jacinto. Preocupado, retorna para sua casa nas Serras e encontra o companheiro ocupado em modificar sua residência, livre do tédio. Totalmente modificado, ele se fixa definitivamente na nova morada, com conforto, mas sem os símbolos da civilização moderna.
Jacinto se dedica a melhorar a vida de seus serviçais, a providenciar o necessário para que o povo desta localidade viva com um maior bem-estar, ou seja, uma biblioteca, farmácia e creche, convertendo-se no ídolo da população. Logo ele conhece Joana, prima do amigo, e com ela se casa. Sua única passada por Paris só reafirma sua decisão de permanecer nas Serras. 

Podemos considerar A Cidade e as Serras um romance no qual se destaca a categoria espaço, na medida em que os ambientes são fundamentais para a compreensão da história, destacando assim os contrastes por meio dos quais se contrapõem. Assim a amplidão da quinta de Tormes contrasta com a estreiteza do universo tecnológico, o que aponta para a oposição entre o espaço civilizado e o espaço natural, presente em todo o romance.


Titulo: A Cidade e as Serras
Autor: Eça de Queiroz
Ano: 1901
Páginas: 233
Editora: Martin Claret

Boa Leitura

Casa de Livro Blog 

Karina Belo


Este delicioso Jacinto fizera então vinte e três anos, e era um soberbo moço em quem reaparecera a força dos velhos Jacintos rurais. Só pelo nariz, afilado, como narinas quase transparentes, duma mobilidade inquieta, como se andasse fariscando perfumes, pertencia às delicadezas do século XIX. O cabelo ainda se conservava, ao
modo das eras rudes, crespo e quase lanígero; e o bigode, como o dum Celta, caía em fios sedosos, que ele necessitava aparar e frisar. Todo o seu fato, as espessas gravatas de cetim escuro que uma pérola prendia as luvas de anta branca, o verniz
das botas, vinham de Londres em caixotes de cedro; e usava sempre ao peito uma flor, não natural, mas composta destramente pela sua ramalheira com pétala de flores dessemelhantes, cravo, azálea, orquídea ou tulipa, fundidas na mesma haste entre uma leve folhagem de funcho.
Fortunate Jacinthe! Hic, inter arva nota
Et fontes sacros, frigus captabis opacum...
Afortunado Jacinto, na verdade! Agora, entre campos que são teus e águas que te são sagradas, colhes enfim a sombra e a paz!