If you're a passionate book reader, like me, I imagine you've already noticed that a big book is very different from a difficult book, do you agree?
In this sense, it is not uncommon sometimes to start reading a short book thinking it will be an easy read and end up not finishing it because it is complex, tiring. So many times, we insist on reading to avoid mixing feelings of impotence in the face of such a text, this I say for myself, because I have lost count of how many times I have started reading several works again just to try to understand them, which logically I wasn't happy with some of them.
Check out 3 times this happened to me.
1 - 2666 (Roberto Bolaño)
Faithful to the two main themes that run through the entire work of the Chilean author - violence and literature -, the book is made up of five novels, interconnected by two central dramas: the search for a reclusive author and a series of murders on the Mexico-United States border. .
The first story tells the saga of four European critics in search of Benno von Archimboldi, a reclusive German writer whose pictures are unknown. In the second, there is the agony of a Mexican professor grappling with his existential problems.
The third novel tells the story of a sports journalist who ends up getting involved in crimes committed against women in the city of Santa Teresa, Mexico (fictionalization of Ciudad Juárez).
In the fourth and longest part of the book, the crimes of Santa Teresa are narrated with the coldness and detachment typical of the journalistic language of police pages. And finally, in the fifth story the reader is taken back to World War II, becoming a witness to the mysterious past of Benno von Archimboldi.
2 - - Ada or Ardor: the chronicle of a family (Vladimir Nabokov
“Ada ou ardor” recounts the precocious and incurable passion of the ninety-year-old narrator Van Veen, for his sister, Ada, in a fictional country that merges Russia with the United States, located on the planet Antiterra, where both English and French are spoken.
Between separations and reunions, as a third character enters the scene, the pathetic Lucette, Van and Ada try to assert their passion, which is the only weapon they have against the ravages and rings of Time.
3 - In search of lost time (Marcel Proust)
“In search of lost time” is one of the greatest creations of world literature. Divided into seven books, Marcel Proust's masterpiece was published between 1913 and 192, but its beauty and strength are revealed to be increasingly impressive over the years.
The seven volumes that make up the work are:
On Swann's Side, 1913;
In the Shadow of the Flowering Girls, 1919;
The Way of Guermantes, published in 2 volumes in 1920 and 1921;
Sodom and Gomorrah, published in 2 volumes in 1921 and 1922;
Vladimir Nabokov descreveu todos os seus mais variados sentimentos em forma de contos.
Contos únicos.
Bater de Asas nos leva para o mundo dos esquiadores.
Esporte radical e também uma forma de status.
Era assim que os jovens ricos mostravam suas habilidades e conquistas.
Kern sempre foi um jovem esforçado, procurava ocupar seu tempo com leituras, viagens e culturas em geral.
Mas uma viagem estava programada.
Ele iria esquiar.
Conheceria a mulher de sua vida.
Uma esquiadora nata, que ali se encontrava para competir.
Adorava mostrar suas habilidades e provar que era a melhor.
Mas ao se envolver com o misterioso Kern, fatos estranhos começaram a ocorrer.
Agora tudo seria diferente.
Kern seria um suspeito?
Um suspense de tirar o fôlego que todos devem ler.
Casa de Livro Recomenda!
Kern ficou um longo tempo parado entre as sombras violeta e de repente sentiu um aroma do conhecido terror do silêncio. O rendilhado dos ramos no ar esmaltado tinha a frieza de um conto de fadas assustador.
Titulo: Bater de Asas - Contos Reunidos
Autor: Vladimir Nabokov
Ano: 2013
Páginas: 832
Editora: Alfaguara
Boa Leitura
Casa de Livro.
Karina Belo
Não havia nada além de uma rajada de pele oleosa. Tufos marrons oleosos em redemoinho pelo quarto. O guarda-roupa estava vazio no chão, uma caixa de chapéu branca, amassada.
O riso chegou à sua garganta e transbordou. Kern subia as escadas como um cego. Monfiori o apoiava submisso e apressado.
Vladimir Nabokov , um dos mais ilustres nomes da literatura, consegue sempre nos surpreender com sua capacidade única de brincar com temas distintos em suas histórias.
Contos Reunidos é uma obra magnífica, onde fomos presenteados com os mais diversos contos, por ele escrito.
"Fale-se Russo" nos deixa extasiado com tamanha sagacidade do autor.
Um tema polêmico que foi escrito na medida certa do bom humor.
Martin Martinich era um garoto doce, que sempre ajudou seu pai na fazenda onde moravam.
Sua maior alegria era brincar de trator, ao lado de seu melhor amigo.
Mas os anos se passaram, seu amigo foi morar e estudar em outro país, e Martin virou um grande homem de negócios.
Dono de uma das melhores tabacarias da Alemanha, Martin conseguia cuidar de sua família e também ter uma vida confortável.
Mas um evento inesperado ocorreu em sua loja, e agora tudo mudaria em sua vida.
Em meio a guerra que desencadeava em seu país, um russo entrou em sua tabacaria.
Martin só não poderia imaginar que seu filho conhecia o cliente, e os socos foram imediatos.
Agora o homem guarda um grande segredo para proteger a sua família.
Transformou a sua casa.
Transformou a sua vida.
Qual o segredo de Martin?
O que aconteceu ao jovem russo?
Uma história incrível que todos devem ler.
Casa de Livro Recomenda.
E inclinando-se para perto de mim, banhando-me com seu odor de tabaco e com seu próprio cheiro penetrante de velho, Martin me contou uma história realmente incrível.
Titulo: Fala-se Russo - Contos Reunidos
Autor: Vladimir Nabokov
Ano: 2013
Páginas: 832
Editora: Alfaguara
Boa Leitura
Casa de Livro.
Karina Belo
Esse momento marcou o começo de uma nova vida para nós. Eu não era mais simplesmente Martin Martinich, mas o Martin Martinich, carcereiro chefe.
O prisioneiro bocejou e virou para a parede. Saímos. Martin alisou a tranca com um sorriso. "Nenhuma chace de ele escapar", disse e acrescentou, pensativo: "Mas eu tenho curiosidade de saber quantos anos vai passar aqui..."
Vladimir Nabokov é um dos grandes nomes da literatura.
Suas obras, sempre inesquecíveis e distintas, conseguem agradar leitores de todas as idades.
Claro que muitas vezes consegue chocar seus leitores também, mas sua mente criativa sempre nos leva para lugares incríveis.
"Contos Reunidos" é um livro que nos transporta para cenários mágicos. Recheado de contos, as pequenas histórias são de tirar o fôlego.
"O Duende da Floresta" nos leva para a fantasia de um outro mundo.
O que você faria se um duende batesse em sua porta?
Nosso personagem principal foi agraciado com tal evento. A principio ele não entendia o que estava acontecendo. Mas aquela voz, aqueles trejeitos, não lhe eram estranhos.
As revelações foram únicas.
Seria ele, também, um ser de outro mundo?
Como poderia reconhecer aquele estranho ser que ali se encontrava?
O duende lhe contava histórias.
Lhe mostrava o porque estava ali, naquela casa.
Tudo estava se acabando e precisava de sua ajuda. Precisavam se unir para resgatarem o seu lar, para fazer tudo voltar ao normal.
Mas como ele poderia ajudar?
Não entendia mais quem ele realmente era.
Uma história mágica que nos mostra toda a emoção e força.
Casa de Livro Recomenda.
Pensativo, eu estava riscando o contorno da sombra trêmula do tinteiro circular. Numa sala distante, um relógio bateu as horas, enquanto eu, sonhador que sou, imaginei alguém batendo na porta, primeiro fraco, depois mais e mais forte. Ele bateu doze vezes e parou, à espera.
Titulo: O Duende Da Floresta - Contos Reunidos
Autor: Vladimir Nabokov
Ano: 2013
Páginas: 832
Editora: Alfaguara
Boa Leitura
Casa de Livro.
Karina Belo
Nós, Rus', é que éramos a sua inspiração, a sua incrustável beleza, o seu arcaico encantamento! E nós fomos todos embora, expulsos para o exílio por um enlouquecido inspetor.
Quando acendi a luz, não havia ninguém na poltrona... Ninguém!... Nada restara a não ser um intrigante e sutil aroma na sala, de bétula, de musgo úmido...
Escrito originalmente em
língua inglesa e publicado pela primeira vez em 1955, Lolita é um dos
principais livros do escritor russo Vladimir Nabokov.
Um romance em que o Sr.
Humbert Humbert narra sua trajetória amorosa, aonde ele protagoniza um depravado professor de poesia francesa que se apaixona por sua enteada, uma menina de 12
anos.
Nosso personagem HH apelida a
garota de Lolita, e esse apelido criado na obra deu origem a duas gírias de
cunho sexual: lolita e ninfeta. Vladimir Nabokov nos traz uma obra polêmica e dedifícil temática.
O livro ganhou notoriedade
como um dos romances mais polêmicos já publicados, e sofreu rejeição por diversas
editoras antes de chegar ao público.
A obra possui uma gama de
qualidades literárias que nos leva a um tour de gêneros. Desde um estilo
piscoticamente erótico, depois para um drama em uma realidade mais humilde nas
bandas periféricas, isso tudo até o ponto em que acontecem as longas viagens
que Humbert fez com Lolita, atingindo o gênero aventura. Pouco antes do fim,
nos transporta a um estilo cheio de mistério, com o perseguidor enigmático, até
que chega ao seu fim, com um drama policial no estilo mais cínico possível.
O detalhe descritivo do autor
é muito bom, tudo isso somado ao jogo de palavras empregado por ele, nos
traz um resultado fantástico. Assim como outros bons atributos presentes na
obra, esses valores fez com que Lolita ocupasse um lugar entre os 100
melhores romances do século XX, eleitos pelo jornal parisiense Le Monde.
Nos
dias de hoje, em que vivemos no tempo de livros como a trilogia 50 Tons de Cinza de
apelo erótico facilitado, dos quais são fortemente impulsionados pela mídia,
atingindo todos os públicos com seus temas picantes e ao mesmo tempo
vazios, Lolita está bem longe de ser um desses, dotado de grande maestria é uma
grande riqueza literária. Vladimir Nabokov foi um mito no gênero em que
escrevia. Lolita não é um livro comum.
Uma das principais
características do autor que sempre com muita genialidade o fazia, era a descrição detalhada de cada objeto
focado pelo narrador. Sendo ele um cientista que estudou as borboletas (
lepidopterista), o autor tenta combinar poesia e ciência. E de fato cada página
de Nabokov é um pequeno poema, pela beleza e genialidade da escrita que é rica
em recursos e imagens precisas da descrição de cada paisagem. Em muitos momentos, Vladimir exige do leitor
uma maior atenção na leitura, visto que os jogos de palavras e os termos
estrangeiros são bastante comuns.
O livro é recheado de
referências, um dos exemplos é quando cruzam pelo estado da Virgínia, Humbert
descreve um farol, detalhe que passa despercebido a quem não conhece a obra
Rumo ao Farol de Virgínia Woolf, que possui o mesmo nome do estado americano. São
inúmeros os exemplos que aparecem em todo o livro. Também é presente na obra, algunsanagramas utilizando o nome de Vladimir em alguns personagens, mas não
devem reduzir quem não os identifiquem na
obra. O pouco que consegui encontrar foi através de pesquisas, e realmente não
compreendo o alcance de muitos aspectos e referências empregado pelo autor. Mas
só pelo pouco que conheci valeu muito a pena. Nabokov cria um confronto entre o
autor e o leitor, e os leitores com maior gabarito tentam resolver todos os
quebra-cabeças literários. E como sempre, Nabokov irá sair vitorioso deste
jogo, nenhuma novidade para quem era mestre no jogo de xadrez. Porém esses
fatos não tem a menor importância. O livro possui uma leitura de fácil fluidez,
mesmo quando as referências passam despercebidas.
O escritor russo nos concebe
um depoimento apaixonado e sincero de um homem. E sim, ele é um pedófilo que se
apaixona loucamente por sua enteada. Logo ao ler a sinopse, um sentimento de
repulsa irá se revelar dentro do leitor, tudo isso por conta de valores morais,
embora o livro e a narrativa do autor pouco a pouco reduz esse sentimento, o
que não faz do leitor um pedófilo, muito menos cúmplices ao final do livro, mas sim grandes admiradores de uma literatura gigante.
Homem de origem europeia que,
após um fracasso matrimonial em sua terra natal, vai à América como professor.
HH desde o início sempre deixou muito claro sua afeição por ninfetas, e nessas
preferências ele acaba se hospedando na casa de uma mulher, cuja filha Dolores
Haze, torna-se alvo de seu amor incontrolável.
Confesso que a simples
natureza desse relacionamento é repugnante. Mas o autor é dotado de grande habilidade
para fazer com que esse sentimento inicial que desperta no leitor, NÃO seja o
centro e a matéria-prima de sua literatura, e se fosse, o livro ditaria as
regras sobre o personagem, de uma maneira que amplificaria esse sentimento, e
assim ficaria fácil demais. Porém Nabokov opta para o lado contrário e mais
difícil, e expõe as entranhas dos sentimentos de seu personagem principal de
uma maneira em que a relação carnal entre os dois seres nunca se dá de maneira
explícita e com detalhes pornográficos. E não são narradas, apenas sugeridas ao
leitor entre uma vírgula pretenciosa e outra. O ponto central não é no assunto
que mais nos horroriza, a impensável relação criança e adulto quando o assunto
é o sexo. Emnenhum momento, Humbert nega seu lado negro, pois em seu
depoimento, descreve que a chantageava com certos mimos de criança, agindo como
seu "papaizinho" e também deixa bem claro em diversas oportunidades
ao seu júri imaginário, que ele é um monstro, e guarda dentro de si um demônio
incontrolável.
A quem irá defender o
protagonista, pois ele não age como um estuprador, como de fato encontramos
normalmente em um pedófilo e nos abusadores, notamos como que fugindo de uma
personalidade. Nabokov constrói um personagem muito interessante. Vamos lembrar
que a obra não é sobre um caso terrível e repugnante sobre um homem que abusa
de sua filha, e sim sobre um atentado contra os bons costumes, pois o réu tenta
nos convencer e dar a legitimidade ao seu profundo desejo incontrolável por
aquela menina. Não no fato de que o adulto em questão tem mais de 40 anos e
ocasionalmente abusa de sua filha de 12, e no seu íntimo, vive na realidade
de que ele a ama. Mas não esqueça que isso é secundário e esta longe, muito
longe de ser correto, assim como o próprio personagem classifica o ato.
Do outro lado do campo temos
Lolita. A diabinha de Humbert, dotada de forte
gênio, birrenta e com mil manias. Que não é nada santa, não que o autor a faça
uma máquina de provocar prazeres em adultos, mas é justamente nas reações e
atitudes de criança que Lolita tem que surgem os desejos de Humbert. Aonde o
professor nunca tenta esconder sua própria culpa, mas nos mostra também, em
diversas oportunidades, e nos faz prestar atenção sobre como essas criaturas
com o perfil de Lolita, não são flores que se cheiram. Com o andar da história,
você nota que a menina desenvolve-se à sua maneira, dominando a situação e fazendo
de capacho o Sr. Humbert Humbert, que no futuro senta no banco dos réus como um
vil aproveitador.
A narrativa não é previsível,
e o leitor nunca sabe na passagem de uma paisagem o que o autor irá dizer, se
será algo sobre as curvas de Lolita ou sobre a natureza.
Assim como toda obra, devemos
ler sem preconceitos, e mesmo chocado, leia com entusiasmo. Pois temos uma
ótima história, muito bem narrada, que possui um tema marginal e difícil de
digerir,aonde os tapas na cara do leitor serão imprevisíveis, fazendo com que
muitos venham a fechar o livro e respirar fundo antes de retomar, mas nunca
desista.
Muito bem escrito e sedutor, combinando
delicadeza e violência que não é de fantasia. Uma criança que é continuamente
violada, e se terminasse ai seria fácil. O problema é que o leitor rapidamente
entra na cabeça de Humbert e começa a perceber o que ele sente, e a viver no seu
mundo, chegando até compreender a sua falta de controle. Este que reconhece o seu
crime, nãotenta se desculpar e assume a culpa de ter estragado a vida de
Lolita. Uma das memoráveis cenas do livro, ocorre quando Lolita tem ainda 11 anos e o Professor ainda
esta hospedado na casa de sua mãe Charlote, quando ela brinca no sofá onde Humbert
está sentado, tocando-lhe e provocando-o; o réu contrai-se e fica dividido
entre dar corda ao que Lolita faz, ou afastá-la para não correr o risco de
perder controle. Para ela apenas um jogo, para ele uma dificílima luta interna.
Humbert narra esta cena de tal maneira, com tanta emoção e sensualidade, que o
leitor irá esquecer a idade de Lolita, a obsessão parece aceitável, mas não é.
O livro é completamente evidente nesse tipo de violência e crime, mas também na
humanidade de Humbert. Uma leitura sem obstáculos, um
grande livro, a segunda obra de um autor russo no blog, como sempre causando
muito impacto.
Uma história que vale a pena
seguir. Um estudo sobre tentação, controle, violência, cinismo, tirania,
obsessão, e culpa. Quem for ler a obra, irá ganhar um desafio pela frente e
verá que o lugar que o livro ocupa na História é mais do que merecido.
O romance ganhou duas versões
cinematográficas, a primeira, de 1962, realizada por Stanley Kubrick;
e a outra, em 1997 dirigida por Adrian Lyne. Casa de Livro recomenda.
Titulo: Lolita
Titulo Original: Lolita
Autor: Vladimir Nabokov
Ano: 1955
Páginas: 319
Editora: Companhia das Letras
Boa Leitura.
Casa de Livro Blog.
Sidney Matias
Lembro-me da fragrância do pó-de-arroz que ela terá roubado da empregada espanhola de sua mãe, um perfume vulgar, doce e almiscarado, que se mesclava com o cheiro de biscoito de seu próprio corpo. Meus sentidos estavam a ponto de transbordar quando súbita barulheira vinda de uma moita fez com que nos separássemos, as veias latejando, assustados pelo que provavelmente não passava de um gato em suas rondas noturnas. Nesse justo instante veio da casa a voz de sua mãe, chamando por ela em tom cada vez mais frenético, enquanto dr. Cooper saía para o jardim claudicando laboriosamente. Mas o pequeno bosque de mimosas, o manto de estrelas, o frêmito, a chama, a doce seiva e a dor ficaram comigo, e aquela menininha de pernas bronzeadas e língua ardente desde então me perseguiu - até que, por fim, vinte e quatro anos depois, quebrei seu feitiço encarnando-a em outra.
Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.
Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita. Será que teve uma precursora? Sim, de fato teve. Na verdade, talvez jamais teria existido uma Lolita se, em certo verão, eu não houvesse amado uma menina primordial. Num principado à beira-mar. Quando foi isso? Cerca de tantos anos antes de Lolita haver nascido quantos eu tinha naquele verão. Ninguém melhor do que um assassino para exibir um estilo floreado. Senhoras e senhores membros do júri, o item número um da acusação é aquilo que invejavam os serafins - os desinformados e simplórios serafins de nobres asas. Vejam este emaranhado de espinhos.
De repente, sobre nós se abateu uma paixão louca, desajeitada, impudica e agoniante; e também desesperada, caberia acrescentar, porque só teríamos podido saciar aquele furor de posse mútua se cada um de nós assimilasse a última partícula da alma e do corpo do outro - mas lá estávamos, incapazes até mesmo de manter uma relação carnal, quando crianças que vivessem em cortiços teriam tido tantas oportunidades de fazê-lo. Após uma desvairada tentativa de nos encontrarmos à noite em seu jardim (à qual retornarei dentro em pouco), a única privacidade que nos permitiam era a de estar longe dos ouvidos, mas não dos olhos, de todos os que freqüentavam aquela movimentada parte da praia. Ali, na areia macia, a poucos metros dos mais velhos, ficávamos estendidos durante toda a manhã num petrificado paroxismo de desejo.
Aproveitando cada abençoada dobra do tempo e do espaço para nos tocarmos: sua mão, semi-oculta na areia, movia-se lentamente em minha direção, os dedos finos e queimados de sol chegando como sonâmbulos cada vez mais perto; depois era seu opalescente joelho que iniciava uma longa e cautelosa viagem;às vezes, uma trincheira ocasionalmente aberta pelas crianças oferecia proteção suficiente para que nossos lábios salgados se roçassem; mas esses contatos fugazes levavam nossos corpos jovens, saudáveis e inexperientes a um estado de tamanha exacerbação que nem mesmo a água fria e azul, sob a qual ainda nos agarrávamos, era capaz de aliviar.
Dentre os tesouros que perdi durante minhas andanças de adulto, conta-se uma fotografiatirada por minha tia onde apareciam, sentados em volta da mesa de calçada de um restaurante, Annabel, seus pais e o dr. Cooper, um senhor idoso e solene que puxava de uma perna e, naquele verão, fazia a corte a minha tia. Surpreendida no ato de curvar-se sobre seu chocolat glacé, Annabel não tinha saído bem, e (tanto quanto me recordo da fotografia) apenas os ombros magros e a risca dos cabelos permitiam identificá-la em meio ao clarão ensolarado contra o qual se esbatia seu perdido encanto. Mas eu, algo afastado do grupo, aparecia numa pose quase teatral: um rapaz melancólico sentado de perfil, com as sobrancelhas salientes, vestindo uma camisa esporte escura e calções brancos de bom corte, as pernas cruzadas, o olhar distante. A fotografia foi tirada no último dia daquele fatídico verão, poucos minutos antes de fazermos nossa segunda e derradeira tentativa de lutar contra o destino. Usando um pretexto ridículo qualquer (era nossa última chance, nada mais importava), escapamos do restaurante rumo à praia, encontramos um trecho de areia deserto e lá, na sombra violácea de algumas rochas avermelhadas que formavam uma espécie de gruta, tivemos uma breve sessão de ávidas carícias, os óculos de sol que alguém perdera servindo como única testemunha. Eu estava de joelhos, prestes a possuir minha querida, quando saíram da água dois banhistas barbudos, o velho homem do mar e seu irmão, gritando palavras obscenas de encorajamento. Quatro meses depois ela morreu de tifo em Corfu.