6 de set. de 2013

A CASA (André Vianco)

André Vianco conseguiu nos escrever em tão poucas páginas, uma história emocionante.
No livro A Casa, ele reúne quatro personagens distintos, mas com um problema em comum. Um coração atormentado, em busca de alivio e paz.
Os personagens tão reais e cativantes, que é impossível não se identificar com algo que aconteceu na vida de cada um.
Todos querendo uma segunda chance, uma possibilidade de mudar sua história, fazer às coisas diferentes, e conseguir a tão esperada paz interior.
Problemas do cotidiano, retratados de uma maneira leve e emocionante.
Rosana é uma mulher madura. Mãe de três filhas e casada a mais de vinte anos com Celso. Porém seu relacionamento com o marido foi se desgastando mais a cada dia.
Rosana tinha certeza que seu marido estava traindo-a, por isso resolveu pagar na mesma moeda. Isso foi à gota d’água de seu casamento, mas ela não poderia imaginar que os dias de vida de Celso, estavam contados.
Após a morte de seu esposo, Rosana sentiu-se extremamente culpada. Foi por sua culpa que ele saiu daquele jeito de casa, que ele passou aquela semana sem ter contato com as filhas, que ele morreu.
Ela então se tornou uma mulher depressiva, mesmo após anos, ainda vive a base de remédios. E o único meio que ela encontra para ter alivio para seu próprio coração, é a morte.
Ismael foi um garoto pobre, que culpava seu pai pela situação financeira da família. O que ele mais deseja era abandonar aquela casa, abandonar aquela família de perdedores, abandonar aquele pai covarde, que sempre teve medo de correr atrás de seus sonhos.
O garoto cresceu se transformou em um maníaco por trabalho. Hoje é dono de milhares de casar noturnas, um dos homens mais ricos da cidade. Mas ele se sente atormentado pela morte de seu pai. O senhor morreu após eles brigarem, uma discussão boba quando Ismael tinha dezoito anos. Mais uma vez o motivo foi dinheiro, a falta de coragem do pai. Ele nunca ouviu o lado de Elias, nunca ouviu a história de porque seu pai aceitava trabalhar tanto por tão pouco. Ele nunca conseguiu conhecer realmente quem era o seu próprio pai.
Leonora sempre foi meio rebelde. A criação, por parte de seu pai, sempre foi em estilo militar. Ele era machista, durão. Leon e sua mãe não podiam ir à calçada, ele as proibia de tudo.
 Mas o mundo da garota acabou quando ela assumiu ser lésbica. Seu pai não aceitava, ele nunca aceitaria uma filha que gostasse de mulher. Leon foi expulsa de casa, humilhada pela família. E sua mãe, a mulher que ela tanto ama, não pôde nem se despedir da filha, e foi expressamente proibida de manter qualquer tipo de contato.
O coração da garota transbordava de ódio. Leon se afundou nas drogas, não sabia o que fazer de sua própria vida. Ela só pensava em dar um jeito de tirar aquele sentimento todo de dentro do seu coração.
Hélio, de todas as histórias essa foi a que mais me chocou e emocionou. Hélio era um homem popular, tudo o que ele tinha era melhor. O carro, a casa, o emprego, a esposa mais linda. E ele se gabava por isso. Sempre contando vantagens para os amigos, ele se sentia o maioral. E tudo se desfez quando Vilma engravidou e sua filha Mariana, nasceu com um problema congênito. Como ele, um homem que sempre teve tudo melhor, podia se contentar com uma filha doente? Uma filha que não poderia ser uma vencedora como ele foi?
Mariana nunca ouviu do pai um “Eu Te Amo”. Hélio nunca incentivou a garota a nada. Ele nunca comprou um presente pra ela.
Quando a garota morreu, ele encontrou algo que o deixou desesperado. Ele sempre foi um monstro.
Desesperado Hélio se tornou um alcoólatra, ele bebia para ter uma paz momentânea, para lutar contra seu fantasma interior, para ter coragem.
Aquele homem que sempre teve tudo do bom e do melhor. Hoje não tinha nada.
Ele perdeu o emprego, o carro, a esposa, ele perdeu a filha.
Pra que viver? Hélio se via em uma alternativa para se livrar de toda aquela dor.
Quatro pessoas, quatro histórias distintas.
A única ligação entre eles, é que todos receberam um cartão misterioso, cartão esse poderá mudar a vida de cada um.
Apenas um endereço, e uma frase que prova que encontrarão alívio para o seu coração.
Todos foram convidados para ir até uma casa amarela.
A casa onde eles terão uma segunda chance, onde encontrarão a paz.
 

Nessa Casa eles começaram uma nova vida.
O que irá acontecer com cada um deles?
Irão perdoar? Terão o perdão?
A Casa, um lugar misterioso que guarda milhões de segredos.
Casa de Livro Recomenda.

Existe um lugar onde todos têm direito a uma segunda chance...


Titulo: A Casa
Autor: André Vianco
Ano: 2002
Páginas: 227
Editora: Novo Século

Boa Leitura.

Casa de Livro Blog.


Karina Belo.





Rosana cruzou a porta. O cômodo estava submerso na mais completa escuridão. Toda a confiança que trazia se desvaneceu. Fechou a porta vagarosamente. O coração batendo rápido. Tateou a parede até encontrar um interruptor. Uma luz acendeu, criando penumbra. Era uma lâmpada recoberta por tinta azul, que deixava fazer uma claridade fraca. O suficiente para que ela enxergasse outra cadeira no meio da sala. O que era? Alguma brincadeira? Rosana aos poucos se acalmou. Ao menos não tinha um fantasma ali dentro, nem mesmo uma turma em volta de uma mesa branca, evocando espíritos. Os olhos começaram a pesar. Ia fazer o jogo. Se aquilo trouxesse paz, ia ao menos tentar.

Conhecia a mãe. A mulher também tinha medo de ser colocada para fora de casa. Na época, Leon cultivara um ódio tremendo dos dois. Que depois se transformou em pena de si mesma. Depois em vício. O pai falecera um ano após a ter colocado fora de casa. Não tivera coragem de encontrar com a mãe. Não quisera se encontrar a mãe. Mas a mãe também definhara com a casa vazia. Morrera com um pouco mais de um ano do enterro do velho. Morrera deprimida. Leon nunca mais a tinha visto e estava drogada demais para se importar em aparecer para ver a mãe ou ir ao enterro. Arrependimento. Dor. Angústia. Drogas. Drogas. Drogas.


Ainda trêmulo, pôs as mãos sobre a mesa. As mãos tocando a toalha plástica e decadente. Respirou fundo. Era um homem, pombas! Não podia chorar. Mas a sensação de estar ali era mais forte do que ele. Era confrontar seus sentimentos mais pesados. Seus ressentimentos mais obscuros. Era com ser jogado de volta a uma tormenta. O lar, que deveria ser o refúgio, o lugar mais calmo, era o lugar por ele mais detestado. Sair dali. Fora o que sempre quis. Então, estava lá, de repente, arremessado de volta ao lugar que odiava. A casa pobre. O menino mais pobre da sala de aula. O cara que nunca tinha grana para
Sair com os amigos. Que inventava desculpas ou dizia que não gostava disso ou daquilo na lanchonete.
—"... vem, princesinha! — bradou o valente fidalgo. — Saia da escuridão e vamos embora daqui. Não tenha medo princesinha, pois eu já matei o dragão e venci a malvada bruxa. Já limpei o caminho até nosso ensolarado castelo onde te espera o amor e a compreensão. Vem, princesinha! Deixa essa cela escura e me dê à mão". — declamou o pai

de Mariana, emocionado, olhando para a pequena princesinha que, finalmente, por obra divina, atendia seu chamado e apertava-lhe a mão.

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