29 de ago. de 2012

Machado de Assis - DOM CASMURRO

Pessoal hoje iremos comentar no blog Casa de Livro, sobre um clássico da literatura. Dom Casmurro de Machado de Assis. Com temas de ciúmes, a ambiguidade de Capitu, o retrato moral da época e o caráter do narrador, é considerado uma obra prima de Machado de Assis, um dos livros mais  famosos e um dos mais fundamentais na literatura brasileira.
Bentinho, chamado de Dom Casmurro por um rapaz que residia próximo a sua casa, no mesmo bairro, decide atar as duas pontas de sua vida. A partir daí, relata sua vida, nos contando de uma forma incrível a sua história. O próprio Bentinho irá nos narrar a magnifica história de Dom Casmurro.
Morando em Mata cavalos com sua mãe Dona Glória. Bentinho dividia a casa com seu tio Cosme, Justina sua prima e ainda um agregado José Dias. Bentinho possuía uma vizinha que conviveu como “irmã-namorada" dele,  Capitu, para os íntimos Capitolina . Seu projeto de vida era claro, sua mãe havia feito uma promessa, em que Bentinho iria para um seminário e tornar-se-ia um padre. Cumprindo a promessa Bentinho vai para o seminário, mas sempre desejando sair, pois se tornando padre não poderia casar com Capitu.
José Dias, que sempre foi contra ao namoro dos dois, é quem consegue retirar Bentinho do seminário, convencendo Dona Glória que o jovem deveria ir estudar no exterior, José Dias era fascinado por direito e pelos estudos em lugares distantes, com a possibilidade de vivenciar outras culturas.
Retornando para o Brasil, Bentinho consegue seguir sua vida e realizar o seu maior desejo, casar-se com Capitu. Porém desde os tempos do seminário a mesma vinha fundamentando uma estranha amizade com Escobar, amigo íntimo de Bentinho, e que também havia se casado.
O filho de Capitu e Bentinho nasce então, Ezequiel um lindo garoto que até então era a alegria de Bentinho, até que Escobar acaba falecendo e no velório Bentinho percebe que Capitu não estava chorando, mas que sem dúvidas aguçava um fortíssimo sentimento pelo defunto.
A partir desse momento começa o drama de Bentinho. Ele percebe que o seu filho, o garoto Ezequiel  era a cara de Escobar e começa a relembrar que várias vezes chegou a encontrar Capitu sozinha com seu amigo pela casa. Embora confiasse muito no rapaz, que também era casado e ainda tinha uma linda filhinha, o desespero de Bentinho é imenso. Ele volta então para a Europa, não consegue mais permanecer no Brasil, e mesmo com as insistências, e cartas de Capitu para o mesmo, só retorna ao Brasil quando recebe a notícia de que sua mãe Dona Glória faleceu, assim como José Dias. Duas perdas terríveis para o pobre Bentinho.

Pouco tempo depois, Ezequiel também morre, mas a única coisa que não morre no romance é Bentinho e sua dúvida.
Os olhos oblíquos e dissimulados de Capitu demonstram as duas pontas da história da vida de Bentinho: seu primeiro beijo na amada ocorre mediante a percepção daqueles belíssimos olhos de ressaca e seu drama é, justamente, a percepção no velório dos mesmos olhos de Capitu. A infância coligada com Capitu também contribui para a afirmação de Bentinho, pois ela sempre esteve com o espírito de dissimulação que o deixava abismado nos momentos que ela conseguia enganar o próprio pai , o velho Pádua. Dom Casmurro é um livro complexo e cada leitura origina uma nova interpretação. 

A grande sacada da obra, é que Machado de Assis faz em Dom Casmurro um fato inacreditável em sua narrativa. Ele cria um narrador que afirma algo, Bentinho afirma que foi traído e o leitor não consegue definir se é verdade, ou não, se Bentinho realmente foi traído por Capitu ou se estava delirando. E ainda fica aquela famosa pergunta no ar que é o clímax do romance: Teria sido Capitu culpada de adultério? 






Titulo: Dom Casmurro.
Autor: Machado de Assis
Ano: 1899
Páginas: 223
Editora: Martin Claret

Boa Leitura

Casa de Livro Blog

Karina Belo 



Como vês, Capitu, aos quatorze anos, tinha já ideias atrevidas, muito menos que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na prática faziam-se hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto, não de salto, mas aos saltinhos.


Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada." Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. As demoras da contemplação creem que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.


Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras humanas, sejam velhas ou novas. Onze meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifoide, e foi enterrado nas imediações de Jerusalém, onde os dois amigos da universidade lhe levantaram um túmulo com esta inscrição, tirada do profeta Ezequiel, em grego: "Tu eras perfeito nos teus caminhos." Mandaram-me ambos os textos, grego e latino, o desenho da sepultura, a conta das despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o triplo para não tornar a vê-lo.
Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vulgata, achei que era exato, mas tinha ainda um complemento: "Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia da tua criação." Parei e perguntei calado: "Quando seria o dia da criação de Ezequiel?" Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério para ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro.


As minhas lágrimas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã. 

 

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