O DIA DO CURINGA - Jostein Gaarder
Olá leitores da Casa de Livro Blog!
Vamos comentar hoje sobre uma obra espetacular do autor Jostein Gaarder, O Dia do Curinga. Quem já teve a oportunidade de ler alguma das obras do autor pôde perceber que Jostein escreve muito sobre filosofia. O Mundo de Sofia, obra que já comentamos aqui no blog é prova real, o enredo gira em torno de uma menina instruída e amparada por um filósofo. O Dia do Curinga tem o mesmo estilo, porém a viagem e a parte filosófica são mais detalhadas pelo autor. O ponto de partida deste livro de Jostein Gaarder é a história de um garoto chamado Hans-Thomas e seu pai que cruzam a Europa da Noruega à Grécia, à procura da mulher que os deixou oito anos antes. Sua mãe. Hans-Thomas, um garoto norueguês de doze anos que viaja na companhia de seu pai em busca da mãe que, quando o garoto tinha apenas quatro anos saiu de casa “para se encontrar”. Muitos anos se passam sem que eles tenham notícias da mãe de Hans-Thomas, mas por sorte o pai do garoto compra uma revista onde à capa é a foto dela, eles decidem partir então para Atenas.
Na viagem, param em um posto de gasolina, e um anão os atende. O pai de Hans-Thomas pergunta um caminho bom e mais rápido para seguirem viagem, o anão então indica um trajeto que faz um desvio até um povoado chamado Dorf, caminho esse que descobrem depois, ser mais longo. Mas antes de saírem do posto para seguir viagem, o anão dá a Hans-Thomas uma lupa, e diz que foi feita por ele mesmo. Eles chegam então a Dorf, passam a noite lá. Hans-Thomas passeia pela cidade, enquanto o pai bebe no bar do hotel. Em seu passeio ele encontra uma padaria e se encanta por um aquário que esta na vitrine, percebendo que nele falta um pedaço de vidro, e o mais engraçado, do mesmo tamanho da lupa que o anão lhe deu. Ao ver que Hans-Thomas tinha aquela lupa, o padeiro convida-o para entrar. Oferece ao garoto um refrigerante de pêra e lhe dá um saco com quatro Pães doces. O padeiro fala para Hans-Thomas comer o maior pãozinho quando estiver sozinho, e também diz que um dia irá servir ao menino uma bebida muito mais gostosa que aquele refresco. Quando Hans-Thomas esta sozinho e come o maior pãozinho, encontra um livrinho dentro do pão, um pouco maior que uma caixa de fósforos, escrito com letras minúsculas.
Será que o anão sabia que ele ganharia tal livro? Pois só com a lupa é possível a leitura. E, é a partir daí que nossa viagem começa. Durante a viagem de carro Hans-Thomas vai lendo o livrinho e descobrindo mistérios escondidos nele, e ao mesmo tempo descobre que também pode ser um filósofo assim como seu pai. O livrinho, que foi escrito pelo padeiro, conta a história dele próprio, Ludwig um ex-soldado, e Albert que lhe ensinara a arte da panificação, também conta no livrinho à história do mestre que por coincidência também se chamava Hans. Hans era um marinheiro que naufragara numa ilha e encontra uma sociedade um tanto estranha, que descobre ter sido criada por Frode, outro náufrago da ilha, que lhe conta sua história. O navio de Frode naufragara e ele passou anos sozinho na ilha, apenas com um baralho como companhia. Ao longo dos anos as cartas foram se desgastando e ficou quase impossível distinguir uma imagem da outra. Frode começou então a conversar com suas cartas, já que não conseguia mais jogar com as mesmas, e em sua imaginação elas respondiam. Ele imaginava cada carta como uma pessoa anã. Cada um tinha seu temperamento e personalidade. Certa vez, andando pela ilha, Frode vê o Valete de Paus e Reis de Copas andando, exatamente como ele os havia imaginado, e logo surge todo resto do baralho. Então Frode passa a conviver com as cartas, que tinham um pensamento muito limitado, principalmente por causa de uma certa Bebida Púrpura, que era deliciosa, promovendo reações indescritíveis ao ser ingerida, mas que em excesso pode destruir a mente. E após exatos cinquenta e dois anos da chegada das cartas, que Hans chega à ilha, também naufrago. Ele se espanta muito, e não sabe se pode crer em seus olhos. Após Frode explicar-lhe tudo sobre a ilha, inclusive sobre o curioso calendário inventado por ele, revela que o dia seguinte seria o Dia do Curinga, um dia extra no calendário da ilha. No Dia do Curinga teria uma festa, onde todos jogavam o Jogo do Curinga. O Curinga era o único pensante dos seres da ilha, pois ele não se inebriou com a bebida Púrpura. No jogo, todas as cartas pensavam em uma frase e no início do jogo, elas eram declamadas. Depois o Curinga embaralhava-as em uma determinada ordem e assim as frases eram repetidas. As frases até então desconexas, formavam agora uma história, revelando haver uma ligação entre os anões e uma habilidade além do entendimento de todos. A história formada é surpreendente e descobre-se que se relaciona com a vida de Frode, de Hans, de Albert, de Ludwig e até Hans-Thomas. Neste dia então o Curinga revela aos anões que eles tinham surgido da imaginação de Frode. E é nesse ponto da história que os anões se rebelam, decidindo então matar Frode e também o Curinga. Hans e o Curinga conseguem fugir da ilha. Todos os fatos que acontecem durante a trama já estavam previsto pelo jogo do Curinga. Ludwig, seguindo a tradição, ouve o segredo da ilha e da bebida Púrpura, prova algumas gotas e se torna o novo padeiro de Dorf. Hans-Thomas então liga todos os pontos da história e descobre que o anão que lhe dera a lupa era o Curinga fugido da ilha.
Mas o que ele fará agora? Contará o segredo da ilha a seus pais? Sua mãe que agora finalmente esta perto, ficará com eles? Ludwig seria seu avô paterno? A única certeza dada por Hans-Thomas é que um Curinga continua andando pelo mundo. E ele se encarregará de não permitir que o mundo se acomode. A qualquer momento, em qualquer parte, pode aparecer um pequeno bobo da corte usando um barrete e uma roupa cheia de guizos tiritantes. Ele nos olhará nos olhos e perguntará: Quem somos nós? De onde viemos? Uma incrível obra de Jostein Gaarder que nos faz refletir. Casa de Livro recomenda.
Titulo Original: Kabalmysteriet
Autor: Jostein Gaarder
Ano: 1990
Páginas: 341
Editora: Companhia das Letras.
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